sábado, 13 de outubro de 2012

Sem Segredos

Boa noite, minha Vida...
Vem, querida, senta aqui para que eu confidencie segredos da minha alma...
Queres saber ou já sabes? Mas eu preciso dizê-los para certificar-me de que já os conhece e, assim, quem sabe descubra eu mesma mais alguns... aqueles mais distantes de toda a consciência e que se revelam por um capricho indireto de respiração, fôlego, emendo ou sacrifícios dos sentido
s... que a minha indisposição física seja auxiliar valiosa nesta tarefa, ou, ao menos, se não souber encontrar nas palavras o seu remédio, que encontre no mero balbuciar a medula própria à sua cura.
Senta ou levanta... que arremendo de figura! fica como estás, presa em mim, agarrada desgarrada de mim, garra em mim, guerra em mim, guelras em mim, nadadeiras de profundezas em mim, sabatanas em mim, cem centenas de antenas de milhares de milhas em mim... som de ritmo abandonado e muito só em mim... vamos estabelecer toda a aproximação que nos distanciou para esta ilha de mim, de visitante de rompantes de relampejos e vales escuros de segredos de degredos, de dedos decepados em anéis coroados e cabeças aneladas de coroas imaginadas...
Espelho ou espeto, me reflitas e me espetes para além do papagaio de mim, muito sabido de mim: porque eu nada sei de mim. Oh Vida, me formigues além das cãibras de mim e tira este mim de mim, preciso eu. Necessito-te precisa, prática e enfática; anseio-te crua com alguma veste nua, no que a veste reveste o contorno da lua para que possamos apontá-la e dizer: olha a lua. E assim eu diga; olha a Vida. (...)

Maria Cristina Gama - do livro: Trilogia do Poderoso Imperfeito - 2004
( Escritora e artista plástica sergipana - 1964-2010)

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