terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Do último dia penso um recomeço.
Do último minuto penso um recomeço.
Do último amor penso um recomeço.

Meu último pensamento:
um recomeço.



Também já não me importo mais...
E não quero nada além de minha paz.
Nem é preciso borboletas.
Nem é preciso, enfim.

Haverá sempre flores e sol.
E música e poesia.
E arrebatamentos todos.
Haverá sim, tudo.
Haverá sim.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

E quando você se pega completamente deslocada do mundo?

domingo, 22 de dezembro de 2013

Amar alguém ainda é o maior bem que se pode ter.
Amar com amor apaixonado
e correspondido é a melhor sensação que
o coração pode experimentar.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Esbarro em mim mesma quando penso estar longe
e sinto tudo parecer em vão.
Tenho o consolo do vento no rosto
e sua música e velocidade.
Há um misto de bem e desencontro que me
dói e cansa:
O que eu quero é paz.
O que eu quero é mais.

domingo, 15 de dezembro de 2013

E tudo vai embora
E tudo acaba.
Não há nada que dure
Não há nada.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Era uma borboleta
definindo o voo entre flores e pensamentos.
E na rapidez do dia
procurava a viva cor
dos jardins da lua.

Azuis e amarelos impossíveis,
verdes brilhantes,
róseos.
Com o céu de vento nas asas
ventava e
em idas e vindas
saltava nas entrelinhas
do estático mundo.


Era uma borboleta
na perfeita forma de nada.
Efemeridade sob nuvens
e sobre pedras
sobressaltada pelo doce da vida
que em um segundo passa.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sementes

Muitas e de tipos diversos
espalhadas pelo vento,
pelo canto, pelo sorriso.
pela palavra e pelo silêncio.


Sementes

Caindo em todo lugar
vindo de toda parte,
se partindo em novo sem se poupar.
So[mente] mudança, dança da vida.
Brotar.



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Também se nasce para ser sozinho.
Com uma marca invisível 
que não permite nada além de ois
e ínfimos contatos.
Nada além do que qualquer
um pode dar,
nada além da distância conveniente,
nada mais que só saber permitir
ao outro,
um pouco bem pouco de si mesmo.



domingo, 1 de dezembro de 2013

Nuvens
(Wislawa Szymborska, 2002)

Para descrever as nuvens
eu necessitaria ser muito rápida 
numa fração de segundo
deixam de ser estas, tornam-se outras.

É próprio delas
não se repetir nunca
nas formas, matizes, poses e composição.

Sem o peso de nenhuma lembrança
flutuam sem esforço sobre os fatos.

Elas lá podem ser testemunhas de alguma coisa 
logo se dispersam para todos os lados.

Comparada com as nuvens
a vida parece muito sólida,
quase perene, praticamente eterna.

Perante as nuvens
até a pedra parece uma irmã
em quem se pode confiar,
já elas — são primas distantes e inconstantes.

Que as pessoas vivam, se quiserem, 
e em sequência que cada uma morra,
as nuvens nada têm a ver
com toda essa coisa
muito estranha.

Sobre a tua vida inteira
e a minha, ainda incompleta,
elas passam pomposas como sempre passaram.

Não têm obrigação de conosco findar.
Não precisam ser vistas para navegar.

Perdes a chave da casa, perdes o botão
da blusa,
Perdes o anel de plástico da feira-
Perdes a cor dos lábios, perdes o sacudir das ancas
Mas se me perdes do teu abraço precisarei ser salva.

Perdes as combinações de notas que aprendeste, perdes o
o gosto do pão que ganhaste,
Perdes o estoque que sempre guardaste e nunca
desejaste,
Perdes teu ritmo, tuas deixas, perdes teu sentido
de passar o tempo,
Mas se me perdes do teu pensamento precisarei ser salva.

E se perceberes tua consciência atormentada por
alguma raiva justa ou equivocada,
Então perde-te a ti até lembrares de esquecer.


Perdes tua paixão e tua esperança, perdes os nós na
tua corda,
Perdes tua armadura nas lutas que enfrentas-
Perdes as crianças que geraste, perdes a batalha, perdes
a guerra,
Mas se me perdes de tua essência precisarei ser salva.

Perdes tua reverência pelos vencedores, perdes tua
paciência com o perdão,
Tu não tens que ser um mestre ou um escravo-
Perdes teus sentidos, perdes tua cabeça, perdes
tua fé na raça humana,
Mas se me perdes de tua rede precisarei  ser salva.

E se perceberes tua consciência atormentada por
alguma raiva justa ou equivocada,
Então perde-te a ti até lembrares de esquecer.


Para começar, perdes a perfeição; perdes o sonho que
mantiveste a parte,
Perdes a chance de encontrar alguém que 
iria se comportar,
E depois se tu ainda não perdeste, perdes o teu último
arrependimento de perdedor,
E se me perdes de tua rede precisarei que ser salva.


Perdes os votos que nunca proferiste, perdes a piada
leve (fácil),
Perdes tua inocência como se a desses de livre
vontade-
Perdes tua chaleira e a panela, perdes o melhor que
tens,
Mas se me perdes do teu coração precisarei ser salva.

(I Must Be Saved: Madeleine  Peyroux)

sábado, 30 de novembro de 2013

Olhei para mim sem espelhos
e me vi inteira:
Estava cansada, e sem riso feliz.
Tinha sulcos neste rosto que me apresenta ao mundo.
E dores, e suspiros que diziam.
Me vi suspensa em meus próprios medos, nos desejos contidos
e nas decepções pelo que busquei e não consegui. 
Me senti só. Me custei a mim.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

"Toco a sua boca com um dedo, toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se, pela primeira vez, a sua boca entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mão escolheu e desenha no seu rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade, eleita por mim para desenhá-la com minha mão em seu rosto, e que, por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que minha mão desenha em você. Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõe-se, e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem, com um perfume antigo e um grande silêncio. Então as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se estivéssemos com a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água."


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Agora escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas,
chuva de asas,
e eu sem pão para dar,
tão somente deixo-os vir.
Talvez seja isto uma árvore,
ou quem sabe,
o amor.


Julio Cortázar

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Acordo na madrugada com o peito tão apertado como quando
fui dormir.
Lembro do sonho que me deixou assim.

E da realidade.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013


O azul me descortina para o dia.
Durmo na beira da cor.
Vejo um ovo de anu atrás do outono.
...................................
(Eu tenho amanhecimentos precoces?)
...................................
Cresce destroço em minhas aparências.
Nesse destroço finco uma açucena.
(É um cágado que empurra estas distâncias?)
A chuva se engalana em arco-íris.
Não sei mais calcular a cor das horas.
As coisas me ampliaram para menos.
Manuel de Barros

domingo, 24 de novembro de 2013

pedaços de Sol
a chuva desce lavando
bromélias secas
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ao acordar
a cor da flor
dá o tom do dia

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árvore seca
cercada de flores
sempre viva


A. Ruiz

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Há um mês a eternidade.
Condensada em dias e paredes,
em olhos que se olharam.

E nada mais é irreal:
agora tudo é certeza.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Eu só quero ter você quando
não mais quiser ter...
Deste modo terei você e a mim. Só assim.

Do que adianta o eterno bater e o não abrir?
E pra que correr aqui e ali sem nunca se perder?

Então, eu só quero ter você quando
não mais quiser ter...
Que melhor motor pra se fazer pensar nas
incoerências da vida do que uma inusitada chuva matutina? 
Daquelas que acontecem em meio a uma ensolarada manhã e em segundos encharca seu pé, suas costas, a calçada, o cachorro, a paciência... E o curioso é que nem parece molhar, de tão mansinha que é.
E neste exato momento se confirma aquilo que já sabia:  Há algo errado e você tem que admitir. E é inevitável que depois disso comece a descida ou a subida - o sentido é o que menos importa: é um saco uma ou outra coisa mesmo. 
Quando a coisa está esquisita tudo faz pensar: a torrada mal feita em cima da mesa e os quilos a mais que ganhou, como um raio, nas últimas semanas. E agora essa chuva repentina que transforma um dia de sol num troço meio amorfo, abafado e que não é nem bonito nem feio.  Como minha vida agora, então.....

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Encontrando sons em mim
como quando alguém encontra som
em cordas novas
que vibram. Vibram
e é bonito o som. 
Procurando harmonia em mim
como quando se afina um instrumento 
e toca. Cada acorde tem seu som
e cada nota uma história numa pauta.

E a música que tocar 

é a mesma que irei dançar.
E a música que sair 
é a mesma que irei ouvir.

Procurando meu caminho

como quando alguém procura algo 
que o leve ou o traga de volta.
E também um silêncio novo ou
mesmo velho pra ouvir.
uma nota dissonante ou mesmo pura pra calar.
Eu em silêncio ou som estarei ali
entre mi e si e sol 
e lá.
E a vida quis de novo que fosse igual
mas diferente com você.
Que fosse longe mas que houvesse
o muito perto com você.
Que fosse claro mas que tivesse sempre
o dúbio com você.
Que fosse fogo mas que eu sentisse
o mais gelado com você.
Que fosse rápido mas aqui dentro
o infinito com você.
Que fosse tudo mas ainda um
enorme vácuo com você.
Que encontrasse mas que de novo aprendesse
 a ir perdendo com você.
Que fosse assim só um clarão
de um segundo com você.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013


Vou
    um pouco
            embora
                quando me calo.  

Quando

     deixo pra depois
                      as urgências            
                                      em mim.


    Há palavras não ditas que me sepultam algo. 
           
                Morro 
                        nas doces letras 
                                               que engoli.        
Linhas.
Vírgulas.
Pensamentos.

Corredeiras barulhentas de um rio.
Um caminho.
Pedrinhas brancas.
O vento.

Aquela frase dita.
Cheiro de sol.
O que sou.
Respostas prontas.
Memórias tidas.

Independentemente desfaço.
Espaço. 
Descrente.
Botões que se abrem.
Visões palpitando.
versando.

sábado, 9 de novembro de 2013

Se me aperta aqui dentro o que sinto,
vou lá fora e me perco:
Num aperto de uma forte mão no peito, esmagando o respiro,
no encontro do imenso abismo e do paraíso, adormeço.
E acordo no vácuo do mar sem porto.
E acordo no vácuo do porto sem mar. 
E acordo no porto do mar do vácuo.

Perdida lá fora de mim me volto pra dentro,

e dentro de mim me acho,
perdida de mim.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Mirando o mar de minha cabeça.
Ele me abre ao infinito.
Não sou nada!
Sou o que importa ser.
Sendo assim, sou.

Pedregulhos no caminho

e eu fitando o horizonte estarrecida
com as belezas.
Mas os pés em sangue.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Dentro de mim há algo que fala.  
É uma espécie de silêncio que pronuncia palavras nítidas.
(não consigo deixar de ouvi-lo)
Sem alternativas, escuto muda, 
parada diante do que sou,
enquanto corro e faço o meu dia acontecer em seus detalhes. 

Meu coração é como uma caixa,
uma caixa a amplificar o som das entrelinhas
e a traduzi-lo em sentimentos e percepções.
(eles me esclarecem no que ouço sem ouvir)
Desta forma sinalizo a mim mesma a direção
e mesmo sem entender ou fazer me amparo na sua verdade. 

Ouvindo este som de mim,
querendo acertar a direção, sigo
ouvindo(-me) e acreditando no que ouço.
Ouvindo(-me) e duvidando do que ouço.
Ouvindo(-me) e confrontando o que ouço.

Sim, querendo acertar a direção, sigo.
 

sábado, 26 de outubro de 2013

É uma alegria que faz de mim
uma ilha.
e faz de mim uma ponte.
que me faz.
e me deixa fazer-me.
É uma alegria que me sacia.
que me abre a retina
e me fecha portas.
que me tira laços e
mostra o que prende.
É uma alegria que não passa.
É uma alegria que não chega.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

e se eu não conhecesse você
meu poema.
talvez o dia nem tivesse tantas flores
ou os barcos não saissem felizes ao mar
ou mesmo eu,
tão desligada,
nem me desse pela falta das borboletas.

Ah, meu poema...   meu poema...
ler você e não amar?
eu que sou tão
das palavras.




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Algo em mim é luz e brilha
brilha 
brilha
brilha.
Um brilho de se ver
de se enxergar sem sombra
e de se amar por isso. 
De se amar por amar como ama.
De amar sem definir.
Um mar.


Algo dentro de mim é chama
e ama
e clama
se derrama.
sobre aquilo que me toca
e me leva e me traz
melhor e sem fim.
E me leva e me traz 
e me faz.

Algo no centro de mim ecoa
e no lado
e no lodo de mim
e no todo mim
como vozes sem som
como tímbres
acordes
estrondos
ao longo 
e me sinto vibrando
andando sem passos sem laços 
em saltos
e solta no passo
num traço 
me olho
me deixo levar. 
   
Parece que o amor
sempre sofre 

e se derrama pela madrugada.
Pássaros cantam como se soubessem o que fazem,
chuva na janela
e dentro de mim.
A cortina entreaberta, o dia que assusta,
nitidez incômoda
e desejo de ser eternamente noite.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

e se não quero acreditar na travessia
minha vida para.
e se para,
pouca coisa tenho a fazer. 
se não faço,
morro.
e tudo parece pequeno
e nada se encaixa.

Preciso acreditar na travessia
e navegar minha alma.
 


terça-feira, 8 de outubro de 2013



E quando não espero o improvável

sinto que poderá ser. 

Ele acontece no meu olhar

quando desenho em sentimentos o contorno

do teu rosto e sorriso.

Nada mais desejo além de tudo.

E tudo é o que tenho quando te vejo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ando por um caminho em meio a um jardim.
Olho adiante
e sinto
as flores.
Não recuo, não volto atrás -
mas dentro de mim tudo se repete.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Ah, o script a seguir...
o 'caminho'...
aquele passo atrás do outro...
aquela reta...

minha inaptidão inata.



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

olho ao meu redor e vejo que o tempo passou.
passou no espelho, no cabelo
no sorriso... 
naquelas minhas dores,
temores,
amores...

Passou até naquilo que nunca passará.
Até naquilo! mesmo lá!
passou...

e quando ele se vai você também se vai.
e indo você  fica,
mas parte.
e chega.
não sei com precisão
aonde
e nem mesmo sei sem precisão,
mas de repente está lá.
E isso é bom...
e é aterrador!
é como uma noite acolhedora e
suave
mas toda em breu.
Não se vê muito ou quase nada
porém não há outra opção
senão
aquela de seguir com ela
passando...
e indo...
e chegando...
 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A poesia é mesmo incrível. Sem fronteiras nem apresentações, sem arrodeios. 
Vai direto ao coração da gente e tece um sentimento de beleza, de além, que acaba transbordando no mundo...

sábado, 15 de junho de 2013

acordei sabendo que acordaria um dia
e pensaria que o sonho não poderia.
Mas, acordei sonhando!
e pensando que surgiria no meu sonho
a realidade sonhada.

e dormiria.

sábado, 8 de junho de 2013

"Vem ver que a vida ainda vale 
o sorriso que eu tenho 
pra lhe dar." 

(Chico Buarque In Morena dos Olhos D´Água).
"A vida é muito bonita, basta um beijo
e a delicada engrenagem movimenta-se,
uma necessidade cósmica nos protege."


(Adélia Prado In O Coração Disparado)




segunda-feira, 3 de junho de 2013

Escrevo porque sinto.
Porque santo é.
Escrevo porque sei dizer.
Dizer o que sinto.
Dizer que é santo ser.
Escrevo porque nada mais é preciso
para escrever.
depois dos dias-dias
a vida nunca mais
é a mesma-mesma.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Pessoas realmente significativas na nossa vida são bênçãos: Lindas bênçãos!
E depois delas a vida da gente muda. Pra sempre.
E por elas,
de repente para nós, outras coisas também existem! 
E essas 'aquisições' novas não são passageiras, modismos,
elas começam a ser nosso ser.
dizem!
fazem sentido!
É aí que se sabe quão maravilhoso momento
foi aquele do fecundo encontro. E que ele não mais deixará de se dar em nosso caminho,
mesmo que nunca de novo aconteça.
Dele virão outros novos e novos.

E então você só tem a agradecer. Infinitamente.


( à Tatiana Fadel)

quinta-feira, 23 de maio de 2013



Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.


(Hilda Hilst - Alcoólicas - II)

segunda-feira, 20 de maio de 2013


Se o planeta fosse seu e você tivesse o controle sobre todas as pessoas, governos, vontades, atos individuais e coletivos. Como seria esse mundo? Seria melhor, seria diferente?  E a natureza seria beneficiada por isso?  O solo, os rios, ares e mares teriam outro destino? As descobertas científicas realmente fariam o bem às pessoas? E a tecnologia, teria um papel agregador e construtivo?  Todos seriam felizes?


Ah, se esse mundo fosse seu...


Se as suas decisões valessem para todos realmente...


Tudo seria tão diferente...


Tão melhor e mais humano...


Será? Será mesmo que seria tudo tão perfeito?


Que tudo entraria nos eixos?


É possível para alguém controlar com sabedoria todas as vidas?  E a sua vida, uma única vida, você controla com sabedoria?  Boas escolhas são seu forte? Uma boa escolha pra você é igualmente boa para todos? Nunca saberemos, não é? A nossa única certeza é que só desfrutamos mesmo de nossa vida, incontrolavelmente controlável, imperfeitamente perfeita.  E que é por ela, frágil e firme, que caminhamos em meio a outras, fazendo a diferença ou não. Plantando nossas sementes e colhendo os nossos frutos, ou não. Sonho de controle, ao que quer que seja, é só ilusão pobre de uma mente megalomaníaca e que nunca será realizado. Porque a vida não se controla, se vive. Então viva e deixa viver!


sexta-feira, 17 de maio de 2013


Descobri que sempre existe algo que nos traz de volta.
E esse algo é mais inusitado que pensamos.
Para mim, agora, foi olhar aquele rosto bonito e em paz.
Que efeito esse olhar me causou!
(claro, foi o rosto! mas, não menos, o olhar!)
A gente parece que é programado pra recomeços.
Sim, recomeçar é genético! :)
deve ter um 'despositivo secreto' no DNA ou algo assim
que entra em ação quando a coisa tá ficando muito feia!
E desconfio que esse gatilho mágico seja ativado sem critério algum.
Não é mesmo nada complicado de acontecer. Tudo pode servir de gancho pra vida.
É aquela palavra, um cheiro, som, um pensamento, o vermelho do entardecer no céu que você
admira embasbacada quando para no sinal, às cinco e meia, voltando do trabalho.
Ou aquela foto que jamais imaginou que veria. e vê. e vibra.
Pronto: aconteceu!

Então pensei: amanhã volto a correr...

[A vida é a arte do encontro,
 embora haja tanto desencontro pela vida.]
Vinícius.





quinta-feira, 16 de maio de 2013

"Quanto tempo temos antes de voltarem aquelas ondas..."



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Descobri que é possível não sentir.
Não sentir nada.
"Nem medo, nem calor, nem fogo"
só uma ausência infinda. De si mesma.
E mesmo isso vem como um gelo
cortante e insípido na própria percepção.
É como se olhar de fora do próprio corpo. 
Ser um terceiro, cheio de informações sobre você,
mas sem qualquer ligação. 
Descobri que isso, 
deste jeito, é de fato tristeza. E só isso talvez.




sábado, 20 de abril de 2013



Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quando houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.

 Ítaca - Konstantinos Kaváfis


quarta-feira, 17 de abril de 2013

    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas
    Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
    A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
    De dentro da minha cabeça,
    E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

    ( A. de Campos)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

claramente sou fraqueza.
maldade.
egoismo.
vileza.
covardia.
frieza que circula em cinco litros de fluidos de mim.
claramente sou paródia.
garrancho.
desconexão.
imperfeição.
desencontro.
claramente sou futilidade.
mentira.
superfície.
maquiagem.
teatro.
engano.
espasmos de um ser que mal se olha e nem enxerga o que vê.
claramente sou escuro.
penumbra.
decalque.
borrão.
impiedade.
dureza.
insanidade.
claramente sou teoria.
fantasia.
imagem.
prepotência.
intransigência.
vaidade.
uma triste melodia tocando em algum lugar em algum momento.
claramente sou falsete.
engodo.
caricatura.
fraude.
versão.
plágio.
desafinação.
claramente um rascunho de realidade debatendo-se.
claramente.
claramente.
claramente.


quarta-feira, 10 de abril de 2013


E a vida é um turbilhão.
Um furacão.
Um tango.
Um cão.
Um pastel de feira
sem eira.
Uma dissertação.
Um ditado inacabado.
Um palavrão
composto
por desconexão.
A vida é um navio.
Um rio.
Um deslize e um afago.
A contramão.
É o pôr-do-sol às duas da tarde.
O desencanto.
O encontro.
O aperto perfeito.
É a neve no trópico.
Vida é cena e direção.
Sim e o não.
O senão.
O estudo de tudo.
O trunfo.






sexta-feira, 5 de abril de 2013

Minha mania de dizer
quem sou.
Quem eu sou ou não,
nem eu mesma sei,
por definição.
Sou muito mais do que
minhas próprias
definições de mim.
O que sou ou não sou -
em palavras minhas -
em minha presença se esvazia.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Encontrei-me contigo hoje no pensamento.
Foi um daqueles encontros longos, que duram o dia inteiro.
E não parei um segundo de te falar, em meio ao silêncio que gritava aqui dentro,
e nem de te escutar, apesar de todos aqueles eufóricos burburinho adolescentes...
Foi duro demais dialogar assim:
sem falar, sem ouvir...
ser as duas partes  e nenhuma...
Um mudo conversar de sentimentos e desencontros.

quinta-feira, 21 de março de 2013

quando se está triste. muito.
existe aquilo que nos leva daqui.
que mostra que realmente somos de outro lugar.
A tristeza é a porta da realidade. talvez.
esclarece as coisas. acho.
escuridão iluminadora.
- você não pode ser daqui! ( diz por seus olhos...)
- essa coisa toda não é sua! ( e de novo diz...)
( tem que existir algo sem essa dinâmica louca)
não pensar nisso é impossível.

terça-feira, 19 de março de 2013

Tudo muda!
E tudo inunda o vão de minha alma!
E me aperta e me aparta de mim.
E há suspiros,
e viagens intrépidas na cabeça -
que não sai de cima de um corpo que nunca para de ir.
E o coração que se deleita em ser são
ou não
e então só resta saber que é assim que é.
É apenas um tempo,
um trampo,
um tanto do todo.
E o todo, no entanto.
Estovo na busca infinda.
Acordes da música.
Acordo!
Tudo muda!

sábado, 16 de março de 2013

E naquele lugar em que vivi mora um outro alguém.
inquilino e dono.
insuspeitavelmente eu.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O amor dá uma "liga" na existência.

É algo como esperar por uma maravilha,
na iminência de chegar,
mas sem saber que a aguarda.
E não há espera porque de nada mais se precisa,
tudo já contém aquele gosto... 

Mesmo parecendo,
não é nenhum pouco confuso esse sentimento
de esperar - sem espera -
pelo que já se tem:
É tão claro!


( Principalmente quando se falta.)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

 E me olhando de fora de mim
me vejo um pouco por dentro.
E o que sou aí
reflete-me fora de mim.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

E quando a palavra que sai de sua boca,
com a velocidade de um piscar,
faz um estrago do tamanho de um infinito,
o que fazer?

E quando ela faz você não ser mais você para a outra pessoa,
mas você sabe que é, e que continua a mesma,
você sabe que você não é uma fraulde,
o que fazer?

E aqui dentro fica um aperto por não ter chance alguma
de desfazer ou explicar.
E ao mesmo tempo um inquietude pela certeza de você
não ser você na plenitude do seu ser,
senão não teria feito o que jamais quis fazer...

Ah, como falta tanto pra eu me encontrar em mim...
e pra ser eu em totalidade,
em humanidade,
em verdade...
 e
transcender enfim essa pequenez agigantada de ser.