sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Língua

A língua mole, a língua dura, a língua engole lágrima e saliva doçura.
A língua gesticula. Músculo que peleja com a palavra.
Larva que queima; beija enrodilhada a boca que deseja.
Espeta-se da própria carne que é feita. É tecida de veias.

Esperneia quando cala o que pede a força da fala. As brasas da poesia mergulhadas na água.
A dor física do nada. A marca escrita na areia.´
A língua ávida do cachorro parece-se com a minha. Por que tê-la guardada?
A língua pra fora, pra baixo, pra cima. Aquela linha vermelha pendurada
fora da gaveta da cara.

Ou aquela amarela da bainha das minhas calças. A alça de uma jarra antiga.
A língua é como uma perna ajoelhada que caminha. A língua é uma
rainha e uma escrava.
É uma víbora, que pica e assopra. Uma minhoca, como uma isca.
Uma tora fininha, um prato servido na mesa.
Quanta comida que gosta e aprova. Quanto vinho, quanta bebida.

É a porta de entrada e de saída.
A língua é sórdida e linda.


Maria Cristina Gama de Figueiredo

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